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quinta-feira, 23 de junho de 2011

Sofonias

SOFONIAS

INTRODUÇÃO

I. AUTOR E DATA

O livro de Sofonias é o nono na coleção da literatura profética dos hebreus. Em muitos particulares é um dos típicos "profetas menores", mas assinala "a primeira coloração de profecia com apocalípse". Sofonias era homem realista, sóbrio e controlado, ainda que não lhe faltassem poderes impressionantes de imaginação e poderosas e realísticas figuras de linguagem. É certo que ele era jovem quando escreveu sua profecia, mui provavelmente com não mais de vinte e nove anos de idade, quando começou a profetizar. Foi contemporâneo de Jeremias entre os profetas, e do bom rei Josias, de Judá. Alguns eruditos (por exemplo, Kirkpatrick, Doctrine of the Prophets, pág. 237 e segs.) comprazem-se em dizer que Naum também foi contemporâneo de Sofonias e que Sofonias surgiu perto do fim do ministério daquele, o qual, naturalmente, dizia respeito exclusivamente à cidade de Nínive. Mas, não podemos concordar com tido isso, pois, argumenta-se, a destruição de Nínive não teve lugar senão em 612 A. C. e Naum deve ser considerado como profeta mais próximo desse acontecimento do que do período coberto por 640-621 A. C., que foi a época em que Sofonias deve ter aparecido. (Ver anotação, quanto a isso, na obra de Ellison, Men Spake from God, pág. 70).

O aparecimento de Jeremias parece ter sido imediatamente depois das primeiras profecias de Sofonias. Há aqueles que asseveram que eram os dois profetas praticamente da mesma idade, porém, não existe prova sobre qualquer combinação íntima entre os dois. Efetivamente, em certos pontos, Jeremias percebeu a fraqueza e o perigo do reavivamento generalizado e súbito de Sofonias. Indubitavelmente Jeremias se regozijou com as reformas provocadas pela pregação de Sofonias, realizada por Josias; mas parece que Jeremias podia ver além- talvez por já ter vivido mais que o outro profeta-e que considera uma parte da reforma como mera formalidade externa, um gesto próprio de um movimento popular, e não uma purificação sincera e espiritual, dotada de qualidade de permanência.

Sofonias foi o primeiro profeta no período de duas gerações. Provavelmente já se tinham passado setenta anos desde que tinham sido ouvidas as vozes dos profetas do período da ascendência dos assírios-Isaías e Miquéias. A sorte que coube a Samaria, em 712 A. C., servia de solene memória sobre o poder, a majestade e a retidão de Deus. É possível que os cinqüenta anos anteriores ao reinado de Josias se tenham caracterizado por uma nova queda na degeneração e na esterilidade, na história de Judá. Seja como for, o vigor e o zelo da juventude de Sofonias eram qualidades necessárias em vista da situação que prevalecia, e são qualidades facilmente discerníveis em seu livro. A franqueza e o tom imperdoável dos pronunciamentos de julgamento são qualidades típicas de um homem jovem que possui fortes convicções e manifesta um grau incomum de sensibilidade moral e dedicação. O zelo reformador do jovem rei Josias (639-609 A. C.) tinha paralelo apropriado na fervorosa pregação do novo jovem profeta. Ambos "vieram ao reino para um tempo tal como aquele" e a juventude de ambos e os anos difíceis que os moldaram prepararam-nos bem para desempenhar um digno papel naquela nova era. O dr. George Adam Smith sugere que o nome de Sofonias, que significa "Jeová tem guardado (ou ocultado)", pode indicar que seu nascimento teve lugar durante o tempo da matança efetuada por Manassés. (The Book of the Twelve Prophets, Vol. 2, pág. 47). De qualquer modo, o que é certo é que quando, na providência de Deus, Sofonias se apresentou no palco dos acontecimentos de Judá, ele marcou o início do uma nova linha de profetas que deveria incluir Jeremias, Habacuque, Obadias e Ezequiel (além de Naum, se for aceita a data posterior para sua profecia), todos os quais procuraram salvar Judá da sorte que já tinha envolvido o reino do norte. Por conseguinte, é possível dizer com certeza que o corpo principal do livro deve ser associado com a reforma ligada com Josias, que teve lugar em 621 A. C., e é razoável supor que a pregação de Sofonias foi uma das causas contribuintes dessa reforma. Portanto, podemos concluir que a data provável foi cerca de 627 A. C.

II. CIRCUNSTÂNCIAS DE SUA ELOCUÇÃO

Conforme já foi indicado, as circunstâncias dentro das quais Sofonias foi chamado a profetizar eram, a um e ao mesmo tempo, perigosas e promissoras. Durante o longo reinado de Manassés (696-642 A. C.), o perverso filho do bom rei Ezequias, o estado moral e religioso de Judá se tinha tristemente deteriorado (#2Cr 33.1-11). Durante todo o seu reinado ele se tinha oposto ao reavivamento religioso que havia caracterizado o reinado de seu pai. Manassés edificou novamente os altares que seu pai havia derrubado e restaurou a aviltante adoração da natureza associada à adoração de Baal. Superstição, adoração das estrelas e até mesmo sacrifícios humanos, se tornaram parte de uma religião de formalidades e cerimônias externas privada de realidade interna e sem convicções espirituais ou éticas. (Ver Apêndice I a Reis, "A Religião de Israel no período da Monarquia"). É possível fotografar tudo isso como "o sinal de uma alma desesperadamente ansiosa a procurar, cegamente, como propiciar os misteriosos poderes divinos-a volta fanática à religião de seu avô" (I.S.B.E.), mas, quando muito não passava de um externalismo e de um sincretismo religioso que pagava muita deferência aos senhores assírios e, para os profetas, não passava de uma clara e precipitada iniqüidade. Aqueles que haviam tentado preservar a pureza da adoração a Jeová tinham sido recompensados por seus esforços, com a perseguição e até mesmo com a morte. "Manassés derramou muitíssimo sangue inocente, até que encheu a Jerusalém de um ao outro extremo" (#2Rs 21.16).

É verdade, naturalmente, que Manassés se arrependeu dessa atitude antes de sua morte e que "humilhou-se muito perante o Deus de seus pais" (#2Cr 33.12). Também é evidente que as más tendências de seu reinado não haviam conquistado inteiramente o apoio do povo. Uma vez mais, havia um remanescente que não havia dobrado os joelhos; havia aqueles que desejavam e trabalhavam para a vinda de tempos melhores. Era esse fator que tornava aquele período ao mesmo tempo promissor e perigoso. Josias tornou-se rei de uma nação, dentre a qual muitos ansiavam por uma religião mais pura e estavam prontos tanto para ouvir Sofonias como para seguir o rei em seu zelo reformador.

Também se deve fazer menção da invasão da Média e da Assíria pelos citas, em 632 A. C., que transformou seus campos frutíferos em um deserto, como se uma nuvem de gafanhotos tivesse passado por eles. "A guerra era sua principal atividade, e serviram de terrível flagelo para as nações da Ásia Ocidental. Romperam a barreira do Cáucaso em 632 A. C. e, avançando através da Mesopotâmia, pilharam a Síria e estavam prestes a invadir o Egito quando Psamatique I os comprou com ricos presentes" (Porter, I. S. B. E., pág. 2.706). O relato dessa invasão, que é dado por Heródoto, no Livro IV de sua História, tem recebido alguma confirmação mediante pesquisas recentes sobre a questão e serve para explicar o decadente poder da Assíria, o que permitiu Josias levar a efeito suas reformas e deu à Babilônia a oportunidade de assumir a ascendência. Alguns eruditos, por outro lado, duvidam da exatidão do relato de Heródoto, em vista dos erros demonstráveis ali contidos e porque ele é nossa única fonte de autoridade para a história de que os citas chegaram tão ao sul e ao oeste a ponto de chegarem a fronteira egípcia. Além disso, é argumentado que, visto que estamos a tratar de uma "linguagem escatológica tipicamente vaga, em que tudo é visto através de uma nuvem de poeira", os julgamentos aqui anunciados não podem referir-se àquela invasão. (Ver Ellison, Men Spake from God, págs. 81, 68). Não é essencial, entretanto, supor que a invasão cita é aqui retratada, mas é razoável sustentar que, sabendo a respeito como com certeza sabia, Sofonias teria visto nela um quadro do que aconteceria se Judá persistisse em seu presente curso de rebelião contra o Senhor. Em realidade, a invasão cita parece não ter atingido Judá de forma alguma; seu opressor, afinal de contas, e o instrumento do julgamento de Deus, foi a Babilônia.

III. A MENSAGEM DE SOFONIAS

Sofonias era habitante de Jerusalém. Isso é óbvio em vista de certas referências a locais específicos da cidade, que só poderiam ter sido feitas por alguém que estivesse bem familiarizado com eles (cfr. #Sf 1.4, "deste lugar"; ver também #Sf 1.10,11,12). Na cidade, o profeta observava a populaça, que se inclinava a viver mediante a força e a fraude entre si mesmos, mostrando-se idólatra e cética para com Deus. Suas primeiras profecias, por esse motivo, estão envolvidas numa melancolia sem alívio; o traço negro, na face de Deus é mui claramente perceptível no quadro que temos em #Sf 1.1-3.8. Desse ponto em diante, todavia, soa uma nova nota -a esperança de salvação universal e a restauração final para Judá. A seção de #Sf 3.9-20 é tão diferente da que a antecede que alguns eruditos a separam do resto do livro; porém, não há razão pela qual isso deva ser feito. É verdade que o grande peso da pregação profética de Sofonias dizia respeito ao julgamento, súbito, iminente e desastroso, contra Judá e as nações circunvizinhas. Contudo, freqüentemente descobrimos que aqueles que mais claramente discernem os julgamentos de Deus contra o mundo em geral, são aqueles que também vêem o arco-íris de Seu amor e misericórdia arqueados no horizonte do futuro. Sofonias, pois, apesar de ter predito os julgamentos que sobreviriam a Judá, viu-os como um expurgo necessário e essencial para que Judá se tornasse a nação bendita do Senhor e Sua criada perante o mundo inteiro.